Ontem eu li de enfiada um livro de ficção científica do Poul Anderson, intitulado “Onda Cerebral”.
Interessantíssimo. Ele especula se um fenômeno cósmico qualquer alterasse em um picoinfinitésimo as constantes eletromagnéticas. Faria quase nenhuma diferença na física usual mas uma tremenda diferença biológica na célula viva mais aprimorada: os neurônios e suas conexões elétricas.
Em decorrência, animais e humanos ficariam mais inteligentes – animais quase ao nível dos humanos e humanos superinteligentes, com exceção dos retardados mentais, que se tornariam humanos “normais”.
O livro é bem agradável de se ler, mas o principal é que me fez pensar sobre o que é inteligência. Discordo do autor que seja apenas velocidade e precisão das conexões cerebrais. Inteligência é a capacidade de resolver problemas. E problemas, para serem resolvidos, precisamos pensar de forma aberta, não apenas focalizando toda a nossa concentração em apenas uma forma de resolvê-los. Precisamos pensar de forma “desconcentrada”, isto é, não apenas seguindo afanosamente a primeira solução que nos vem à mente.
Escrevi este texto depois que tive um exemplo disto hoje de manhã. A chave da porta de meu armário quebrou. Todas as minhas roupas dentro, não podia sair pelado na rua… 😉 Peguei uma chave de fenda e tentei abrir de todas as maneiras e como o armário é bem construido, não conseguia.
Maldisse a forma de construção do armário, pois sempre preferi armário com portas de mola ou pressão, e do porquê armários de roupa precisam ser trancados à chave etc. Imaginei como seria difícil e custoso pedir a um chaveiro para abrir e trocar a chave e que não tinha nada para vestir…
Forcei o armário, escarafunchei com a chave de fenda e nada. Estava quase pensando em arrombar a porta na violência quando parei e relaxei. Sentei na cama na frente do armário e revisei minhas opções.
Então, bastou olhar para cima e verificar que a porta superior do armário tinha uma chave idêntica à chave de baixo, quebrada. Peguei a chave e abri a porta de baixo do armário.
Pode parecer um exemplo bobo, mas aproveitei esta oportunidade para analisar como funciona a inteligência. Foi uma sincronicidade com a questão que ocupava minha mente: ser mais inteligente não é pensar mais depressa e nem ter muitas respostas prontas.
Pensar em alternativas não é apenas seguir uma só linha de ação. É necessário “sair do problema” para se poder “resolver o problema”.
Vejo muita gente confundindo cultura formal e anos de estudo com inteligência básica. Saber a resposta de muitas questões já previamente pensadas não é prova de inteligência e sim apenas de cultura. É verdade que estudar e ler muito ajuda a desenvolver a inteligência, pois a prática de pensar estimula o cérebro. Mas isto não é a inteligência em si mesma.
Em meu trabalho de aconselhar pessoas, estas reflexões se tornam muito úteis. A maior parte delas não percebe que o esforço insistente em uma só linha de ação não é a melhor forma de resolver um problema. É importante relaxar a mente, olhar “a floresta, e não as árvores”…
Também serve para entender porque pessoas aparentemente muito inteligentes tomam decisões que parecem estúpidas. Inteligência é decorrente da forma de abordar uma determinada questão. Se mantivermos um foco exagerado em uma só forma de pensar poderemos desperdiçar nossos melhores esforços de pensamento e ação e não fazer o melhor possível.
Levem isto em conta, ao analisarem se são inteligentes ou não, ou se estiverem avaliando se uma pessoa é inteligente. Inteligência é dependente da situação e da forma de atuarmos perante ela. É a forma de solucionarmos os problemas e não apenas aplicarmos soluções prontas de forma cega e compulsória. Precisamos sempre manter a mente aberta para novas opções. Encarando a inteligência como uma atitude, e não como uma característica herdada imutável, ganhamos mais em autoestima e até em autocontrole e autoconfiança. Reflitam sobre isso.
Sobre inteligência e a porta do armário

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