Decisões, Intervenção Paradoxal e o Jogo do Acaso

Uma abordagem de Jogo para auxiliar pessoas empacadas na hora de tomar decisões.

Há pessoas que sofrem e se angustiam imensamente na hora de tomar decisões. Possuem vários lados internos que se digladiam constantemente, um tentando sabotar o outro na hora de tomar uma decisão qualquer. Em sua mente, ficam experimentando as várias perspectivas e caminhos possíveis, tornando-se indivíduos hesitantes.

Estas pessoas assumem uma posição que pode ser até coerente em um certo momento mas, no seguinte, pressionados pelas outras “vozes” internas, acabam recuando antes que a primeira decisão comece a dar os seus frutos. Várias tendências se digladiam, e elas se sentem estacionadas em uma bifurcação, sem saber qual estrada é a melhor.

Mesmo que não se considere casos extremos como esses, algo parecido pode ocorrer com qualquer um de nós, em alguns momentos de tomar determinadas decisões. Na realidade sempre estamos tomando decisões, e não tomar nenhuma decisão é também uma decisão.

Em alguns casos não é possível obter informação suficiente para alimentar a parte racional – o hemisfério esquerdo do cérebro, para ter a certeza absoluta de que nossas decisões estão corretas. E, também, nem sempre dispomos de feelings claros, definidos, que nos permitam sopesar as tendências emocionais – o lado direito do cérebro, para julgar as melhores opções disponíveis.

Dizem que o que diferencia um executivo, um estadista ou um general (isto é, alguém que pode ser um líder)  da média das outras pessoas, é que não tem medo de tomar decisões. Sabem dos riscos envolvidos, reconhecem que podem perder e avaliam cuidadosamente os prós e contras envolvidos. Mas, na hora H, usando o máximo de informações possíveis, e mesmo que estas não sejam suficientes, continuam indo em frente, buscando fazer o melhor.

Em PNL (Programação Neurolingüística) usam-se técnicas para fazer com que as pessoas “negociem” com suas partes internas, e as “integrem”, facilitando tomar e manter decisões. Experimenta-se uma mudança da estratégia, por exemplo, fazendo as pessoas experimentarem vários caminhos “internamente”, em suas imaginação, para que avaliem quais os melhores possíveis.

Com estas experiências imaginárias, fica mais fácil com que tomem uma decisão, porque tem uma certa “experiência prévia” do que pode acontecer em cada alternativa, seja negativo ou positivo.

No entanto, algumas vezes, estas técnicas esbarram em crenças internas arraigadas, de que tudo o que deve ser decidido deve ser experimentado com muito cuidado e todas as opções devem ser bem consideradas… E estas crenças internas acabam dificultando ou impedindo o sucesso da intervenção em PNL.

Quem estudou hipnose já experimentou, algumas vezes, utilizar técnicas de mudança de ponto de vista que podemos chamar, no mínimo, de insólitas, para superar estes momentos de estagnação.

Sabe da importância de causar um “impacto” na mente, para que se possa ultrapassar a barreira consciente da parte cortical do cérebro e alcançar o sistema límbico, as emoções em estado bruto. Pode até não parecer lógico agir de certas maneiras, e a sugestão é optar por uma coisa louca de se fazer. E quando a mente se confronta com um novo absurdo, ela pode perceber o absurdo das opiniões que estava usando no dia a dia.

Isto é conhecido pelo nome de intervenção paradoxal. Este termo é muito usado em hipnose, em terapia estratégica e terapia sistêmica, no uso com famílias com problemas. Milton Erickson, o grande hipnoterapeuta que serviu de estímulo para a criação da PNL, usava muito este tipo de técnica.

A intervenção paradoxal utiliza uma forma indireta de “passar por cima” destas questões de crenças, fazendo uma decisão se passar por uma outra coisa qualquer, através de símbolos ou comportamentos similares, mas aplicados em contextos diferentes. Isto modifica a percepção da pessoa acerca do problema e tem um impacto forte, da mesma forma como as metáforas costumam impactar, no âmbito linguístico. E facilita que uma decisão possa ser experimentada em toda a sua integralidade, seja porque é vista de forma metafórica, ou porque é experimentada por um prazo específico, tal como se fosse um “contrato por tempo determinado” ou porque o simples fato de “fazer alguma coisa” tira a pessoa do imobilismo.

Mas, para fazer isso, um comprometimento mais emocional se torna necessário. E isso se consegue encarando uma decisão como um tipo de jogo, um jogo fácil e emocionante. A tomada de decisão se transforma em um prazer e ao mesmo tempo permite que o indivíduo possa escutar todas as opiniões de seus lados internos, sem travamentos de auto-crítica.

E como é feito na prática? Uma das sugestões que costumo usar é a baseada em tarefas. Sugiro que a pessoa experimente colocar em um papel, cuidadosamente, todas as opções possíveis de que dispõe, efetivamente, coragem de experimentar, para resolver uma determinada situação.  Colocando no papel o que realmente acredita está, na prática, listando todas as opiniões de seus lados internos. E peço que especifique em termos sucintos o que fará, caso escolha cada um dos determinados caminhos. Isto é, escreva um contrato interno consigo mesma.

Neste momento vem o ponto principal, que diferencia esta tarefa da simples análise de uma lista de alternativas: ao invés de escolher uma ou outra destas opções listadas, o que causa hesitação e angústia em alguns, em um perpétuo buscar de novas informações, peço que coloquem as opções em uma moeda ou um dado e joguem a moeda ou dado para escolher a alternativa a ser executada.

Se forem muitas opções, que restrinja as opções – para a moeda em apenas duas e para o dado em apenas seis – descartando as menos importantes, o que já é um exercício de tomada de decisão…

Esta tática diversiva transforma um sério impasse em um jogo de compromisso consigo mesmo: estipular um prazo determinado de tempo (normalmente 24 horas ou uma semana) e, durante este prazo, seguir rigorosamente aquela determinada decisão.  E não importa o que aconteça, que se mantenha esta posição por aquele período de tempo.

O esforço de tomar uma decisão é redirecionado para cumprir um tempo determinado e não em avaliar o próprio conteúdo da decisão tomada…

O que ocorre normalmente é que a pessoa faz um esforço incrível de manter a decisão que o “acaso” escolheu. E este acaso na verdade não é acaso, pois antes selecionou cuidadosamente o que pretendia colocar como opções, e provavelmente as alternativas são elaboradas e escolhidas exatamente porque não dispõe de informações adicionais suficientes para saber qual delas é a melhor. 

Sabemos que a melhor forma de avaliar uma alternativa é a experimentando uma ou outra, por um período de tempo.  Com o compromisso de experimentar uma alternativa por um período de tempo torna-se um desafio para o amor próprio não quebrar o compromisso de manter a decisão.

O ideal é que seja um período de tempo pequeno, para criar uma sensação de referência positiva na própria percepção da capacidade de tomar e seguir as próprias decisões. Usar esta técnica em períodos maiores do que uma semana é arriscado, pois o impacto do “jogo” já estará diluido.

Durante o período do “jogo” a auto-estima da pessoa está fortalecida – “viu, eu sou capaz de manter uma decisão!” – e também pode aprender muito com as conseqüências de cada decisão tomada. E assim aprender a reduzir o seu medo do futuro – sim, porque uma tendência ao catastrofismo, um medo mórbido das consequências dos próprios atos, contribui para este comportamento, fazendo a pessoa se focalizar em todas as consequências desastrosas e irremediáveis que podem ocorrer, em cada pequena decisão que toma.

Aqueles que protelam decisões e adiam tarefas porque ficam devaneando na procura da solução ideal podem se beneficiar deste “jogo”, que é na verdade uma tarefa paradoxal: tome a decisão de deixar a decisão ao acaso. Como o período é curto, a busca de comparar incessantemente os fatores positivos e negativos é minorada.

E, se não estiver satisfeito com o resultado naquele período de tempo, pode desistir de uma decisão sem culpa ou desvalorização da imagem – “afinal, não fui eu que decidi isso, foi este método maluco! ” – e, aos poucos, vai treinando a sua capacidade de tomar decisões, até que, com quase certeza, abandone este tipo de prática porque já absorveu a atitude necessária para se comprometer em uma decisão por conta própria.

Esta técnica, apesar de parecer uma simples e rápida dinâmica de jogos, e poder ser usada como uma intervenção paradoxal, possui correntes de admiradores e de detratores. Alguns consideram que praticar este tipo de coisa vai fazer com que as pessas abdiquem do seu livre arbítrio e se entreguem totalmente ao acaso. Outros consideram, da mesma forma que encaro, que é uma saudável forma de “brincar de romper barreiras” e dificilmente há risco de abusos, desde que a pessoa esteja bem assistida em seu trabalho e seja utilizado para o fim que se destina: auxiliar pessoas que possuem ou estejam com excessivo medo de se arriscar e de tomar decisões em área ou momento de vida.

Na década de 70 este procedimento foi transformado em um interessante romance intitulado “O Homem dos Dados”, do professor de psicologia George Cockcroft / Luke Rhinehart. Neste livro esta técnica foi descrita como se transformando em um verdadeiro estilo de vida, transformando e destruindo em cadeia a vida de milhares de pessoas… O livro fez tanto sucesso que teve uma continuação, coisa rara na época.

Outras pessoas chamam este exercício de “Síndrome do Duas-Caras”, um inimigo do Batman das histórias em quadrinhos, que sempre jogava uma moeda para cima para escolher entre fazer o Bem ou o Mal… E também dizem que este exercício é uma “brincadeira de roleta russa emocional” e pode estimular pessoas a se arriscar demais na vida, vivendo um RPG (Role Playing Game – Jogo de Desempenho de Papéis) ao invés de uma vida real.

A questão é que este exercício não é para ser usado como substituição ao bom senso e ao livre-arbítrio das pessoas. Ele não é para abdicarmos de nossa habilidade de escolher, na vida, aquilo que é o melhor para nós. É para ser utilizado nos momentos em que toda a análise lógica e emocional já foi utilizada ao máximo e mesmo assim nos encontramos em um impasse. E aí, neste momento, vale apelar para o lado intuitivo da vida. Nem que seja sacudindo aleatóriamente todas as melhores opções disponíveis…

Na realidade muita gente já faz isso, de certa maneira, só que de forma menos ostensiva e, vamos dizer assim, “religiosa”. Em momentos de conflito, em que não conseguem se decidir, seja lógica ou emocionalmente, utilizam presságios e indicações ilógicas, ou joga cartas, I Ching ou Tarot, buscando de alguma maneira apelar para a intuição.

O que estou sugerindo, nesta técnica, é gerenciar melhor as alternativas alinhavadas nestes presságios, para ter a certeza que estarão listadas as melhores disponíveis. Desta maneira se supera bloqueios emocionais, cegueiras racionais e, também, se dá uma “ajudinha” ao imponderável…

Esta é a técnica. Eu já a experimentei e não a achei viciante como dizem. E considero útil, quando se sofre da paralisia da decisão. Ensinei-a a outros, que experimentaram e gostaram. Na prática é pouco provável que aconteçam abusos, conforme o livro descreve. Mas cada um deve julgar por si. E se alguém a utilizar, se puder me envie o seu relato sobre a técnica. E se concordam ou discordam se há mais benefícios do que riscos nesta prática.

Antonio Azevedo

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